No
dia 3 de agosto de 2013 perdemos três guerreiras, duas delas com trajetórias de
lutas espirituais, sociais e políticas fundamentais para nossa cidade e para o
nosso país, e uma delas menina, no florecer da vida, com toda a promessa de
coragem e luta que suas ancestrais lhe legavam.
Olivia de Oliveira Santos, menina alegre,
vibrante, era a esperança da avó para legado dos conhecimentos ancestrais do
Candomblé. D. Allial de Oliveira dos Santos, Ekede Lembagemim de Oxalá, foi a força e o amparo amoroso da filha,
na vida e nos rituais do terreiro. Vilma Santos de Oliveira, D.
Vilma, nossa amada Yá Mukumby, Yalaorixá
Mukumby Alagangue de Ogum, Mestre Griô, estandarte da cultura afro na nossa
cidade e do país, líder religiosa e política, mãe amorosa de todos e todas,
confortava almas, alimentava bocas e corações.
“Três gerações de guerreiras, três Nzingas brasileiras, três baluartes do
nosso país" foram brutalmente tiradas de todos nós! Nas
notícias sobre as investigações observa-se a pressa, mal disfarçada, de
desracializar e desconectar essas mortes brutais da intolerância religiosa, que afeta principalmente as pessoas que
professam as religiões de matriz africana no nosso país.
As
declarações do criminoso evidenciam o componente intolerância. Ele afirma
claramente que “recebeu ordens divinas” de libertar as almas dessas mulheres
que eram “hostes espirituais da maldade”, expressão bíblica que se encontra no
Livro de Efésios e é muito usada para justificar a demonização das práticas
religiosas afro-brasileiras.
O
criminoso era vizinho de muro das vítimas. Todos no bairro sabiam que D. Vilma era
mãe de santo. Todas as imagens de santos da casa (e somente elas) estavam
quebradas. Essas imagens ficavam numa pequena saleta da casa, acima da mesa do
computador. Tudo que havia no espaço estava intacto, o que indica que não houve
luta ou tentativa de defesa, mas a intenção deliberada de destruir apenas as
imagens representativas da crença das vítimas. Não se menciona o fato do autor
da barbárie ser evangélico e frequentar uma igreja neopentecostal, segmento
religioso que mais cresce atacando as diferenças e demonizando as crenças afro-brasileiras.
Não se menciona o fato de serem três mulheres, negras e pobres. Não se menciona
o fato de o agressor ter investido contra elas pouco tempo depois da saída do único homem que estava presente na casa.
Então
como pode o delegado responsável pelo caso apressar-se em afirmar que foram as
próprias vítimas que quebraram as imagens ao tentar se defender? Como pode
apressar-se em afirmar que o estopim do “surto psicótico” é apenas uma briga
entre o criminoso e sua companheira? Que não há motivações externas à prática
desse crime bárbaro? Que foi uma simples coincidência ou azar, já que elas
estavam no lugar errado na hora errada?
Sabemos
que a intolerância religiosa que afeta as religiões de matriz africana no
Brasil é uma consequência do racismo. O racismo e a intolerância são
construções sociais. Elas são apreendidas individualmente, mas são transmitidas
socialmente. Ninguém nasce racista,
sexista e intolerante. A intolerância, o racismo e o sexismo se aprendem! Esses
valores são repassados pelos pais, parentes, educadores e cuidadores e estão presentes
nas casas, nas escolas, nos serviços de
saúde, em muitos templos e igrejas, na televisão, na internet, nas ruas. A intolerância, o sexismo e o racismo são
legitimados e justificados quando se banaliza a violência que negros e negras,
homens e mulheres pobres sofrem todos os dias no Brasil.
O
racismo e a violência institucional reforçam e legitimam atos individuais e diretos,
como o cometido por Diego Ramos Quirino no dia 3 de agosto. A violência direta
e individual é destrutiva. Mas a
violência institucional é inaceitável! Essa violência institucionalizada,
difusa e sutil, mas efetiva, se manifesta na banalização e na simplificação do
que ocorreu com essas três mulheres. Ela fere os direitos humanos, fere a
dignidade dos negros e negras que Yá Mukumby representava. Fere o direito
fundamental à liberdade de crença e de pensamento, garantidas na nossa
Constituição de 1988. Essa violência desconsidera o que prevê a Lei nº 7.716/89, que combate o preconceito e criminaliza
o racismo no Brasil.
Sabemos que o crime cometido por
Diego Ramos Quirino só pode ser imputado a ele. A autoria e a materialidade
desse ato bárbaro estão definidas. Não queremos acusar mais ninguém e não
pretendemos imputar crime a nenhum outro segmento. Porém, os indícios de sexismo, racismo e intolerância religiosa que
motivaram esse crime não podem, de modo algum, ser desconsiderados.
POR
AMOR A MUKUMBY QUEREMOS PAZ E EXIGIMOS JUSTIÇA!
NÃO
BANALIZEM!
O problema agora è como a Justica e o Estado vao tratar de um caso desses onde mesmo cumprindo 30 anos de pena este individuo sera um risco para a sociedade, pois matou a propria mae e tres mulheres. È possivel que ele venha cometer novos crimes no futuro.
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