terça-feira, 17 de agosto de 2010

Romaria da Terra agosto 2010













Era ainda madrugada quando quando o ônibus chegou a Adrianópolis. Havia partido de Londrina as 23:00 do dia 15. Dele desceram homens e mulheres, muitos deles e delas já estão com os cabelos brancos. Em alguns rostos expressão cansada, sonolenta, afinal , mais de 7 horas havia se passado depois da saída de Londrina.
Ao descermos para participar da 25ª Romaria da Terra, com o tema Quilombo: Resistência de um Povo, Território de Vida”, havia uma mesa enorme com pão com mantega, doce de abóbora, leite e café, trabalho voluntário de homens homens e mulheres, que se dedicaram para que a Romaria já começasse não faltando comida na mesa, com as pessoas alimentadas.
No transcorrer da Romaria foram abordadas as questões sociais vivenciadas por aqueles e aquelas que construíram e constroem o Brasil do dia-a-dia, as comunidades Quilombolas. Questões que se referem a direitos à titulação das terras, aos benefícios sociais, a não contaminação do solo por chumbo, a não morte de rios, fonte de vida, etc.
Aproximadamente cinco mil trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade se fizeram presentes na confraternização ao povo quilombola e a solidariedade da luta pela terra. Lideranças de associações, sindicatos, partidos políticos , assim como o CDH Londrina e o MNDH Parana se fizeram presente nesta caminhada da vida...
Alguns parlamentares estavam presentes, a se destacar os deputados Dr Rosinha e Tadeu Veneri, que anualmente participam das romarias organizadas pela CPT. O candidato a deputado federal Luiz Carlos Paixão da Rocha, militante do movimento negro também estava presente, entre tantos outros candidatos,(as) lutadores(as) do povo .
Foi somente com as lutas das comunidades rurais e urbanas negras e do movimento negro, que a Constituição Federal de 1988 assegurou a a popualação quilombola o direito à propriedade de suas terras.
A lei garante, a realidade nega. O Brasil dos latifundiários, das grandes concentrações de terras nas mãos de poucas pessoas fazem com que este direito seja base de intensa luta, de sangue derramado, de vidas ceifadas em nome de um futuro melhor.
Existem no nosso país aproximadamente três mil comunidades quilombolas que sofrem com questões tais como: latifúndio, monoculturas, construção de hidroelétricas, contaminação de solos devido a mineração.
Esta população que tem sua identidade cotidianamente negada, tem como consequência o não atendimento das condições mínimas para sua dignidades humanas. Direito a moradia, educação, energia elétrica, emprego, saneamento básico, cultura, etc. Direitos humanos desrespeitados.
Em nosso Estado existem aproximadamente 80 comunidades remanescentes de quilombo, mas apenas 35 estão certificadas pela Fundação Palmares. O resto, ha, o resto ( homens , mulheres e crianças), não são ainda reconhecidas e muito menos tratadas com dignidade e valorizadas enquanto resgate histórico da história brasileira.
Em Adrianopolis existem 13 comunidades quilombolas, oito reconhecidas e nenhuma ainda titulada. Adrianópolis está entre os municípios com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, situação da grande maioria dos municípios da região do Vale da Ribeira.
Vale do Ribeira, com seus cumes, seus verdes, suas montanhas, rios e seu povo, tão lindo, tão rico, tão pobre.
Na volta Amanda, menina negra, com seus 21 aninhos observa: " Vani, você pensou o que foi para eles( escravos/as) fugirem das senzalas, atravessar a mata fechada, as montanhas, os vales, os rios para ficarem aqui?"
É Amanda, nosso povo têm história, por mais que a neguem e você também , descendente de Zumbi dos Palmares, carrega em teu sangue a coragem, a garra, a firmeza e a esperança que se transforma em ação em cada passo da caminhada por uma sociedade mais justa.

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