sábado, 25 de setembro de 2010

PATRIA AMADA






Pátria Amada
No mês que se lembra que o Brasil deixou de ser colônia e se tornou uma monarquia, deixou de ser um território explorado por uma metrópole e se tornou um espaço territorial soberano livre, constituiu-se nação, tornou-se um país, um fato, hoje, dia 25 de setembro mostrou que ainda somos homens e mulheres, presos(as), explorados(as), excluídos(as) . Que fato é este?
Ainda o sol não havia aparecido, o telefone tocava. Era Clovis, conselheiro do Conselho Permanente de Direitos Humanos do Estado do Paraná. Estava ligando como o Clovis, membro do Centro de Direitos Humanos de Londrina.
Um fato na madrugada havia acontecido. Carlos Henrique Santana, o coordenador do CDH Londrina havia ligado .Que fato era este que despertava as atenções de vários membros do CDH Londrina?
Era a presença do conflito eminente. Diversas famílias haviam se dirigido até a entrada da fazenda Itaverá, território apropriado por um grupo que tem o poder econômico já a algum tempo na região e lá os aguardavam centenas de policiais com todo o aparato possível para combater estes(as) perigosos(as)que haviam voltado para entrar em terras do grupo Atalla.. Grupo Atalla, que a pouco tempo era denunciado por manter em suas fazendas trabalhadores e trabalhadoras sem lhes pagar por sua força de trabalho. Um grupo que deve impostos ( milhões) para a Receita federal, dinheiro este que poderia ser usado para construir moradia, construir mais escola, comprar terras para reforma agrária, enfim , tornar o Brasil uma pátria mais justa, mais amada.
No dia 26 de agosto de 2010, portanto, menos de um mês, estas famílias foram retiradas a força dos espaços de poder do grupo Atalla, tiveram seus pertences queimados, crianças mordidas por cachorros, mulheres feridas , etc. E menos de um mês depois, estas famílias retornam a entrada da área de conflito.
Depois de vários telefonemas, lá fomos nós, CDH Londrina e MNDH/PR, verificar as condições em que se encontravam as famílias, que até então estavam em uma área de Londrina, em um estado de ausência total de políticas públicas, como já foi relatado em um texto anterior. Ainda no caminho recebemos a notícia que o aparato policial havia se retirado, deixando APENAS algumas viaturas.
Chegando lá encontramos os(as) perigosos(as). Homens, mulheres, crianças, pessoas humanas, pessoas com olhar de medo e de resistência, pessoas humanas , algumas com mais de meio século, mãos calejadas, cabelos brancos, outras ainda não chegaram a metade dos 50 anos, mas com mãos de trabalhadores e trabalhadoras, mãos que querem mexer na terra fazendo produzir arroz, feijão, milho, batata, tomate, etc. Vieram conversar conosco, contaram suas angústias, seus medos e desejos e iam montando seus barraquinhos de lona ao longo da 445( estrada) , sem lugar para fazer suas necessidades biológicas que não fosse o mato, na terra ao redor que está sendo-lhes negada .
Logo em seguida chegou o capitão,estávamos lá para isto, mediação de conflitos, conversamos com o capitão na frente de trabalhadores e trabalhadoras, e ali foi acordado que estas pessoas não poderiam entrar na terra nem mesmo para tomar água, não poderiam retirar da mata nadaaaaaaaaaaa. Deveriam esperar até que venham o INCRA e seu ouvidor e seja feito a burocracia necessária para a considerar a existência destas pessoas como candidatas a um pedacinho de terra na pátria amada, que se encontra vendida , explorada, massacrada por grupos que não são brasileiros . Neste momento em que escrevo este texto, homens, mulheres e crianças estão debaixo de uma lona no meio da estrada. Estão sem banheiros, estão sem televisão, estão sem energia elétrica, estão sem muitas coisas que consideramos tão necessárias as nossas vidas. Mas estão com a certeza de que a pátria será mais justa, amada, se eles lutarem por ela. Em seus olhos brilham a esperança e a certeza que estão construindo uma pátria mais humana, mesmo que para isto vivenciem situações de desumanidade

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