John Schwartz enxerga o sofrimento do filho depois de uma tentativa de suicídio e lança livro sobre o difícil caminho que o garoto percorreu para se aceitar
Divulgação
“Se tivéssemos mantido drogas mais
poderosas em casa, poderíamos ter perdido nosso filho”, escreve John Schwartz
sobre a tentativa de suicídio de Joe Jeanne Mixon, esposa do jornalista do New
York Times John Schwartz, entrou em casa uma tarde para encontrar o filho de 13
anos, Joe, incoerente, de “olhos esbugalhados” e nu no banheiro. Frascos de
comprimidos estavam espalhados pelo chão e havia uma faca dentro da banheira.
Joe tentou se matar.
A cena – um pesadelo para todos os
pais - abre o livro de memórias de John Schwartz, “Oddly Normal: One
Family’s Struggle to Help Their Teenage Son Come to Terms With His
Sexuality” (ainda sem título em português, mas que pode ser traduzido
como ‘Estranhamente normal: a luta de uma família para ajudar seu filho
adolescente a aceitar sua sexualidade’).
A publicação é um relato emocionante
do aprendizado de Joe para conseguir aceitar sua sexualidade, assim como o
esforço de seus pais para protegê-lo da homofobia e ajudá-lo a suportar um
sistema escolar que continua a marginalizar crianças que precisam de
compreensão.
Schwartz está no trabalho quando Jeanne liga para lhe dizer que o filho tentou se matar. Ele corre para o hospital, onde se senta ao lado da cama de Joe, implorando ao filho que beba uma solução que neutralizará o efeito das drogas ingeridas. É possível sentir sua angústia quando ele tenta persuadir o filho: “vamos, Joseph. Mais um gole. Vamos. Um golinho mais apenas."
Schwartz está no trabalho quando Jeanne liga para lhe dizer que o filho tentou se matar. Ele corre para o hospital, onde se senta ao lado da cama de Joe, implorando ao filho que beba uma solução que neutralizará o efeito das drogas ingeridas. É possível sentir sua angústia quando ele tenta persuadir o filho: “vamos, Joseph. Mais um gole. Vamos. Um golinho mais apenas."
Anos antes, o casal já tinha reparado
na paixão de Joe por seus “lindos” brinquedos, como ele mesmo definia, e
suas bonecas. John e Jeanne sabiam que seu filho era gay. Ao contrário de
muitos pais, eles estavam ansiosos para ver o menino sair do armário e se
assumir.
Drogas poderosas
Mas mesmo pais compreensivos como os da
família Schwartz não poderiam proteger seu filho da implacável experiência
escolar, nem de si mesmo. O livro conta um episódio quando Joe, sentindo-se
mais corajoso depois de assumir sua homossexualidade, repreendeu um grupo de
meninos sobre a forma que eles classificavam as meninas. Ele passou a
classificar os meninos também: "você é nota sete. Você é nota cinco.” À
medida que os meninos iam ficando desconfortáveis, Joe zombava de todos e os
desafiava: “os garotos estão com medinho do menino gay?", perguntava.
As crianças contaram o que aconteceu
para um conselheiro da escola e a história se espalhou deixando Joe deprimido.
Horas mais tarde, ele engoliu mais de duas dezenas de cápsulas de Benadryl
(anti-histamínico vendido em farmácia).“Se tivéssemos mantido
drogas mais poderosas em casa, poderíamos ter perdido nosso filho”, escreve
Schwartz.
Adolescentes
LGBT
Schwartz relata que as estatísticas sobre adolescentes gays que cometem suicídio, ou pelo menos tentaram, “são obscuras”, mas sua análise o leva a concluir que uma investigação melhor sobre o assunto acabará mostrando uma taxa substancialmente mais elevada de suicídio e uma maior incidência de pensamentos suicidas entre os adolescentes LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) do que na população em geral.
Schwartz relata que as estatísticas sobre adolescentes gays que cometem suicídio, ou pelo menos tentaram, “são obscuras”, mas sua análise o leva a concluir que uma investigação melhor sobre o assunto acabará mostrando uma taxa substancialmente mais elevada de suicídio e uma maior incidência de pensamentos suicidas entre os adolescentes LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) do que na população em geral.
Muitos adolescentes gays tiraram as
próprias vidas, incluindo Tyler Clementi, o estudante americano que pulou da
ponte George Washington depois de saber que um colega de quarto colocou na
internet imagens dele beijando outro homem e enviou mensagens no Twitter
incentivando outros estudantes a assistirem a cena.
Schwartz ainda ressalta que a
intimidação ostensiva não é o único tipo de bullying que afeta crianças
gays. De acordo com uma pesquisa, cerca de 90% dos estudantes gays disseram ter
ouvido a palavra “gay” sendo usada de forma pejorativa e 72% relataram ter
ouvido palavras homofóbicas como “bicha”. O resultado, Schwartz escreve,
“são filhos gays que podem carregar um valentão internamente que os faz se
sentir miserável, não importando se tem ou não alguém mexendo com eles
pessoalmente.”
Transtornos psiquiátricos
Transtornos psiquiátricos
A tentativa de suicídio de Joe parecia
uma reação ao ostracismo na escola, mas Schwartz tem o cuidado de não aceitar
explicações muito simples diante da profundidade do desespero de seu filho.
Joe foi ridicularizado durante boa parte de sua infância porque ele era
diferente, e não só por ser desajeitado em esportes e efeminado. Ele também
era dado a explosões de raiva dirigidas a outras crianças e professores. Além
disso, há indícios de que ele poderia ter tido um ou mais transtornos
psiquiátricos.
Schwartz também olha para si mesmo e
descreve suas próprias falhas como pai. Ele narra dolorosamente os erros que
ele e a mulher cometeram, incluindo as tentativas anteriores de suicídio de Joe
que nunca foram percebidas pelos pais. Scwartz conta que uma vez chegou a
aceitar as desculpas do filho quando encontrou sinais de que Joe poderia ter
tentado estrangular a si mesmo. Schwartz escreve: “a esta altura você pode
estar pensando que éramos cegos. Em retrospecto, a única resposta que eu posso
dar é ‘sim, é basicamente isso’”.
É claro que a leveza que permeia a
história deste pai, que tentou desesperadamente ajudar o filho homossexual, só
é possível porque a tentativa de suicídio de Joe não se concretizou - ao
contrário de muitos outros, incluindo o caso de Tyler Clementi.
* reportagem de David Sheff
--
Alexandre Reis
Diretor da Contemplo Cia de Dança
+ 55 11 998778829
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