terça-feira, 2 de agosto de 2011

RETROCESSO NA PALESTINA


Fábio Bacila Sahd
Historiador e
colaborador do Observatório das Nacionalidades

No momento em que a ONU decide sobre o reconhecimento do Estado da Palestina, é oportuno um olhar sobre a atual situação do conflito naquela região do Oriente Médio. Não há como fugir à constatação de que o corrente estágio do “processo de paz” entre israelenses e palestinos, iniciado em Oslo em 1993, comprova aquilo que, desde seu nascedouro, diversos analistas, entre eles Edward Said, identificaram como tão somente um plano para dar continuidade à colonização dos territórios ocupados pelos israelenses durante a guerra de 1967, muito embora políticos sionistas o exibam ao mundo como uma efetiva predisposição à paz.
Em outras palavras, as negociações nos termos de “dois Estados” já nasceram mortas. Relatórios e comunicados da ONU demonstram que a expansão dos assentamentos nunca cessou, como não cessaram a expulsão de palestinos, a destruição de suas casas e a anexação de territórios. Mesmo no ano de 2000, quando Israel propalou que oferecera o máximo de concessões possíveis em prol da paz, isso não passava de uma evidente falácia.
É clara a falta de vontade ou de capacidade política dos governantes israelenses em dar solução às questões centrais, que envolvem o estabelecimento de fronteiras, a distribuição de recursos naturais (água), o status de Jerusalém, o direito de retorno dos refugiados palestinos e os termos para garantir a segurança de Israel.
A violência desencadeada com a deflagração da Segunda Intifada diminuiu as já escassas chances de paz, por conta do aumento da desconfiança mútua, fazendo com que as relações entre palestinos e judeus israelenses se deteriorassem ainda mais, esvaziando as negociações diretas de qualquer sentido prático e propiciando a ascensão de grupos radicais.
Atualmente, o governo israelense está nas mãos de uma coligação de partidos ultra-nacionalistas, tanto religiosos quanto laicos, cujos membros implementam um programa racista e expansionista e apresentam propostas de paz completamente inaceitáveis para os palestinos. A proliferação de assentamentos ilegais, incentivada pelo Estado, continua em ritmo acelerado e inviabiliza por completo a existência de uma entidade palestina íntegra e independente. Anteriormente, o próprio primeiro ministro Netanyahu prometera empenhar-se para enterrar Oslo, o que, diga-se de passagem, vem fazendo com sucesso.
Já o lado palestino, constituído por um mosaico de agrupamentos com sérias contradições internas, como não tem suas demandas mais básicas atendidas, aposta cada vez mais em uma solução unilateral: manter a frágil coesão recentemente readquirida e ter seu Estado reconhecido pela ONU, órgão que sofre forte influência dos EUA, que têm usado constantemente seu poder de veto a favor de Israel. Tal disposição imperial indica que a questão não é circunscrita à luta entre palestinos e judeus, mas está no centro da disputa das grandes potências pelo controle de uma área estratégica, onde Israel assume o papel de enclave ocidental no mundo islâmico. Isso está evidente no fato de "a paz" ser negociada a partir de Washington.
Nos dias de hoje, o desfecho para o duradouro impasse na Palestina continua distante. Se no início da década de 1990 as perspectivas pareciam promissoras, logo novas sombras as obscureceram. Desde então, a trajetória das negociações caracterizou-se por retrocessos, que desgastaram sobremaneira a viabilidade da solução de dois Estados. Hoje, tanto esta proposta quanto a de criação de um Estado único bi-nacional são de difícil implementação. A cada dia, o ódio e a desconfiança recrudescem, tornando as fronteiras comunitárias cada vez mais rígidas e intransponíveis. Pouco após o raiar do novo século, a paz ainda é uma utopia e a violência a nua realidade.
Por um lado, o povo palestino não abandonará facilmente o sentimento de injustiça a que foi submetido, que permeia suas demandas e mobiliza suas ações, sobretudo quanto à exigência de reparações diante da limpeza étnica promovida pelas forças judaicas em 1948 (Nakba). Do outro lado, uma significante parcela da população israelense, constituída por colonos fundamentalistas e sionistas ultra-radicais, advoga direitos históricos e divinos a toda a Palestina e a consequente expulsão de sua população autóctone.

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