quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mão do lixo

A mão que eu cato o lixo

não é a mão que eu devia ter.

Não tenho para ganhar

na mesa da minha casa

o pão de cada dia.

como não tenho,aqui estou

catando lixo dos outros.

o resto que vira lixo

não faz mal se ficar sujo

se os urubus beliscaram

se ratos roeram pedaços.

mesmo estragado me serve

porque fome não tem luxo

a mão com que eu cato o lixo

não é a que eu devia ter.

mas a mão que a gente tem

é feita pela nação.

quando como coisa podre

depois me torço de dor

fico pensando: tomara

que esta dor um dia doa

nos que tem tanto,mas tanto

que transformam pão em lixo

com meus dedos no monturro

sinto-me lixo também

não pareço,mas sou criança

por isso enquanto procuro

restos de vida no chão

uma fome diferente

quem sabe é o pão da esperança

esquenta meu coração

que um dia criança nenhuma

seja mão serva de lixo.

Tiago de mello

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