A mão que eu cato o lixo
não é a mão que eu devia ter.
Não tenho para ganhar
na mesa da minha casa
o pão de cada dia.
como não tenho,aqui estou
catando lixo dos outros.
o resto que vira lixo
não faz mal se ficar sujo
se os urubus beliscaram
se ratos roeram pedaços.
mesmo estragado me serve
porque fome não tem luxo
a mão com que eu cato o lixo
não é a que eu devia ter.
mas a mão que a gente tem
é feita pela nação.
quando como coisa podre
depois me torço de dor
fico pensando: tomara
que esta dor um dia doa
nos que tem tanto,mas tanto
que transformam pão em lixo
com meus dedos no monturro
sinto-me lixo também
não pareço,mas sou criança
por isso enquanto procuro
restos de vida no chão
uma fome diferente
quem sabe é o pão da esperança
esquenta meu coração
que um dia criança nenhuma
seja mão serva de lixo.
Tiago de mello
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