sábado, 19 de março de 2011

Há, os bons, os bons






NO contexto histórico do Brasil colonial e especificamente na formação das vilas e cidades, as câmaras municipais deveriam tratar de questões que afetassem toda a população local, ao mesmo tempo deveriam fazer cumprir os ordenamentos emitidos pela metrópole. De tal forma, era necessário que os organizadores do poder local fossem naturalmente comprometidos com as demandas da metrópole
È neste contexto que surge a idéia de homem bom, aquele que poderia ocupar cargos políticos na esfera local. Para ser um homem bom, naquele momento era necessário que fosse homem, branco, casado, cristão, católico, europeu, maior 25 anos e que tivesse uma certa quantidade de terras, que não fosse confundido com a população. Ser um homem bom, significava ter a possibilidade de assumir cargos políticos no espaço colonial, discutir leis, administrar a esfera pública e realizar importantes obras, portanto ser um homem bom era um privilégio reservado a poucos. Ao longo da nossa história , esta figura de “homem bom” tem-se perpetuado e ainda hoje , percebemos que a ocupação de cargos públicos ainda se concentra nas mãos de integrantes das elites econômicas e intelectuais da nação. Não raro, as pessoas julgam que a falta de instrução formal ou de prestígio entre as elites econômicas, impedem o bom cumprimento de um cargo político ou mesmo de um discurso em alguns espaços de poder .
E assim foi dia 17 de março no município de Londrina.
A primeira sessão da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) itinerante, realizada na Câmara Municipal de Londrina às 18h30 desta quinta-feira (17), teve algumas falas de alguns homens “bons” do Paraná,
De Londrina foi aberto a fala para a o presidente Gustavo de Andrade Lopes da SOCIEDADE RURAL DO PARANA, e também do representante da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE LONDRINA, e da ORDEM DOS ADVOGADOS/ LONDRINA.
Entre os principais temas abordados estavam melhorias no Aeroporto de Londrina, a duplicação da PR-445, defensoria pública, projeto Arco Norte e saúde em Londrina. (veja: http://video.globo.com/Videos/Player/0,,GIM1463235-7759-LONDRINA+RECEBE+SESSAO+ITINERANTE+DA+ASSEMBLEIA+LEGISLATIVA,00.html
No quesito Defensoria Pública, o Comitê Londrinense Prol Defensoria , representando a Comissão de Direitos Humanos da OAB/Londrina,Centro de Direitos Humanos de Londrina,Movimento Nacional de Direitos Humanos/Paraná,Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná – APP,Comissão Justiça e Paz,Pastoral Carcerária,Sindicato dos Bancários,Diretório Central dos Estudantes – DCE/UEL,Conselho Regional de Psicologia, Fórum Popular em Defesa da Saúde Pública de Londrina e Região, já havia convidado deputados(as) para uma reunião as 10:00 horas da manha, na sede da OAB, tendo aparecido alguns, solicitou então a cerimonial da Assembléia Estadual que abrisse no mínimo 4 minutos para que a CARTA DO COMITÊ LONDRINENSE PROL DEFENSORIA fosse lida, uma vez que deputados(as) que confirmaram presença em Londrina, não apareceram para a reunião da OAB, isto com convite protocolado em cada gabinete, de cada parlamentar, em Curitiba.
Ficou acertado que o comitê faria a leitura, mas eis que no meio da sessão itinerante, ficamos sabendo que o Comitê não se pronunciaria. Somente os “homens Bons” até então haviam se pronunciado. Neste momento entra em cena uma fantástica representante dos movimentos Sociais, grande vereadora Lenir de Assis, que categoricamente afirma que o comitê londrinense iria sim se pronunciar, e após alguns embates, Caroline Thon (OAB-Londrina, comissão direitos humanos) faz a leitura , mas enquanto ainda fazia a leitura chega o governador Carlos Alberto Richa. A leitura é interrompida, toda a mídia se posiciona. E agora? Pedem a Caroline ( ela nos conta depois) para que siga a leitura de onde parou, Caroline recomeça, na carta está uma análise de conjuntura ligada a questão da ausência de Defensoria Pública no Estado do Paraná, tem dados das organizações que compõe o Comitê, como o Centro de Direitos Humanos de Londrina e o Movimento Nacional de Direitos Humanos. Caroline termina a leitura do documento. O governador logo após faz o discurso final, em seu discurso afirma que o Comitê pode colocar o seu nome logo abaixo das entidades e movimentos sociais, afirma este senhor que Defensoria Pública é prioridade no seu governo. Fica a pergunta no ar. Quando e como acontecerá a implementação deste importante órgão que garante a acessibilidade a justiça das pessoas que não tem renda suficientemente necessária para pagar as custas de qualquer processo na justiça brasileira, que nem sempre é Justa, que geralmente acaba privilegiando “os homens Bons”? O Comitê espera ter esta resposta o mais rápido possível, afinal mais de 20 anos se passaram, não podemos esperar mais 20 anos. Porque são vidas que não estão no caminho da justiça, que são pessoas boas, é gente que precisa da gente, é povo, é população paranaense que não sentiu ainda o que é a democratização do sistema judiciário, porque são muitas vezes excluídas de direitos básicos como por exemplo, medicamentos de alto custo, moradia, terra e liberdade. “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda” . (Cecília Meireles)
E os “homens bons”?

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